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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Encontrando

A passagem comprada era pra Viena. Ia visitar a Anita e passear pelas redondezas. Mas aí que eu tava passando mais tempo planejando tudo que eu queria fazer quando VOLTASSE pra Turquia que me dei conta de que na verdade ainda não queria sair de lá.
Mudar a passagem era o de menos, bonito foi arrumar coragem pra minha primeira viagem sozinha nesse tempo todo por lá. A Leslee, que era minha fiel parceira,  já tinha voltado para as Filipinas e eu tive que me virar nos mapas sem a ajuda dela.

Arrumei as malas e parti, nem lembro bem como! Ou melhor, lembro beeem como ;)
Desci com as malas os 7 andares do prédio e peguei um ônibus até o centro da cidade. Lá, caminhei até a rodovia e peguei um outro ônibus, da Pegasus Airlines, que me levaria até o Aeroporto Sabiha Gökçen. Não conhecia esse aeroporto ainda. Ele fica do lado asiático de Istanbul e de lá partem somente voos nacionais.
Chegando lá, me diverti com as lojas das companhias aéreas mais engraçadas que já tinha visto: Azerbaijan Airines e assim por diante!

Peguei o voo pra Izmir e chegando lá, o Mert e o pai dele me esperavam! (super nervosos e atrapalhados, mas queridíssimos...turcos legítimos ;))
Fomos jantar (lahmacun...aaaaah) e depois fomos pra casa deles.
O Mert e eu ainda saímos pra uma cervejinha na noite, mas voltamos cedo pra casa.
Mas cedo meeesmo foi a hora que o pai dele nos acordou no dia seguinte esperando ansioso com um café da manhã lindão na mesa da sacada! Çay pra cá, ovo, pepino e tomate pra lá... compramos nossas passagens pra Pamukkale, que fica ali pertinho! Convenci o Mert a ir comigo e o "papai" (assim que o marmanjo do Mert chamava o pai dele heheh) liberou a tarde de trabalho pra ele!!

Pegamos o ônibus até Denizli e de lá, uma Van (turcos amam vans!!) até Pamukkale.
Chegamos no hostel e pra nossa surpresa, a dona do lugar não falava turco!! Momento de vingança ;))
Tratei tudo com ela e, pra uma surpresa maior ainda, ela deu um quarto só pra nós dois! Será que Pamukkale é um universo paralelo alheio aos costumes turcos???? Não sei hehehe Só sei que dormimos no mesmo quarto (em camas separadas, obviamente!) e economizamos um monte!
Visitamos o " Castelo de algodão" por horas. O lugar é simplesmente milhões de vezes mais lindo do que parece nas fotos. E olha que as fotos são fantásticas. Mas a sensação de estar nas nuvens é real...E eu tava muito realizada, porque desde que tinha saído do Brasil, aquele era um dos lugares que eu mais esperava conhecer. Enchi os olhos de lágrimas e a alma daquela lindeza toda e aproveitei ao máximo estar ali!






Quando terminamos a visita...terminou a cidade!hehehehe
Não tem mais NADA naquela vila. São só os hostels, uns barzinhos, cafés e pronto!
Aaah...tem um monte de restaurante com placas em coreano, chinês, janponês, enfim...restaurantes que agradam todos aqueles montes de asiáticos que viajam em bando pelo mundo! E são muitos!
Deixamos pra jantar mais tarde e nos lascamos: não tinha mais nada aberto!! Nem o restaurante do hostel!
Comprei umas bolachinhas ruiiins de doer e uma Coca quente em um mercadinho meio assustador e...é o que temos pra hoje ;)) Boa noite!



No outro dia, eu segui viagem pra Bodrum e o Mert voltou pra Izmir. Sorte dele, porque eu encarei umas boas horas de viagem a mais ;))
Sorte minha que resolvi visitar Bodrum porque olha...é bonito aquele lugar!!



Bodrum nem parece ser Turquia. Pouca gente fala turco, é um climão de praia, gurias de shorts curtos andando pela rua...bem diferente! E o chamado pra oração então?? Quase não se escuta! (a não ser, é claro, que a janela do teu quarto no hostel seja localizada EXATAMENTE na mesma altura do alto-falante de umas das poucas mesquitas da cidade, como me aconteceu!!).
No hostel eu já comecei me divertindo: tinha feito a reserva pelo site hostelworld e lá dizia que o valor da diária era de 27Liras. Quando fiz o check-in (nome bonito pra entrei e larguei minha mala no chão de tão cansada) fui pagar parte da minha estadia. Eu sabia quanto custava, mas àquela altura do campeonato já tinha aprendido que não custa perguntar de novo hehe. O cara do hostel disse: quanto tava no site? E eu: 27Liras. "Então é 27Liras" ele disse, com um sorrisinho irônico. Perguntei por que ele tava rindo e ele disse "é que o preço que cobramos pra esse quarto geralmente é só 23Liras". Tirei o dinheiro da carteira e disse: yirmi üç!!, que quer dizer vinte e três em turco. Ele me olhou bem sério e disse: tu já passou tempo demais aqui na Turquia!!hahahahahahahahahaha

Negócio feito, fui andar pela cidade...



Caminhei por todas as ruas possíveis, entrei em todas as lojas, encontrei uma feira linda, linda e me perdi no tempo por ali! Jantei em um restaurante gracinha em uma rua super movimentada e depois fui até uma agência de viagens indicada pelo pessoal do hostel pra comprar minha passagem pra Grécia. Sim! Bodrum é famosa por fazer borda bem de pertinho com a Grécia e é possível pegar barcos pra chegar até algumas ilhas gregas.



O café da manhã no dia seguinte foi o mais atípico de todo o meu tempo na Turquia.
Essa refeição é muito,muito importante pra eles. A mesa é sempre bem arrumada, cheia de muitas opções e çay que não acaba mais.
Pois bem...não naquele hostel!
Quando desci para o café, a cozinha ainda tava fechada!! Me assustei mas como tinha que estar super cedo no porto pra partir pra terras gregas, saí de lá pra encontrar um lugar pra comer antes de embarcar.
De repente, do nada, surge um dos donos com a cara amassada de quem tinha saído da cama me chama de volta: eu PRECISAVA esperar pra tomar café lá no hostel, onde já se viu??
Olha...antes eu tivesse seguido meu rumo hahahaha! Não sei como o cara conseguiu, mas ele fez uma torrada ruim de dar dó e me serviu um Nescafé de sachê que tava meio morno! Buenas...deu pra rir mais um pouco pelo menos!


Segui de lá até o porto de onde saem as embarcações e só daí que me dei conta de que, apesar de ser uma travessia de barco, eu tava indo pra outro país. Fila de imigração, carimbo no passaporte, mochila no detector de metais, free shop...um aeroporto, só que não!



A viagem é suuuper bonita. Sentei do lado de fora do barco e fui curtindo até chegar na Ilha de Kos.

E que chegada, que lugar espetacular. Eu não quero ficar me repetindo, mas é que nem eu imaginava que meu roteiro incluía lugares tão bonitos assim! Na verdade, quando a gente planeja uma viagem, fica sonhando com o que vê nas fotos e nem se lembra que chegar no lugar é sempre ver pela primeira vez...

Foi uma sensação muuuuito legal a de ser estrangeira de novo. Porque afinal, eu sentia como se fosse turca e tivesse conhecendo a Grécia..falava em turco com os garçons, pedia informação em turco...toda atravessada!

Dei uma volta pela ilha (passei no banco depois de lembrar que minhas Liras Turcas não valeriam muito em terras de Euro!) e logo fui procurar meu lugar na praia...e que praia!
Não vou nem tentar começar a explicar o azul da água daquele mar e as pedrinhas que a gente vê no fundo e a temperatura da água que já nem sei mais se era azul ou verde e...não seria ali que encontraria as palavras pra descrever a beleza do lugar (as que tanto procurei em todos os lugares que visitei na Turquia!). Não tem explicação. Passei a tarde no sol, tomando uma cervejinha, dando uns mergulhos e curtindo a paisagem...só olhando pro mar!!
Uma vida inteira se justifica na lindeza daquele mar...









(Uma senhorinha enrugada fazendo topless e os turistas europeus bêbados correndo pela praia a gente esquece rapidinho...ou nem tanto ;))





Voltei pra Bodrum no fim do dia... deu tempo pra passear por lá mais um pouco e ainda de ir na rodoviária pra comprar a passagem da minha última viagem: Şanliurfa.

Essa viagem foi pra fechar com chave de ouro! O pequeno trajeto seria de umas 20 horas!
E eu tava decidida a encarar!
Desde minha chegada, sempre me diziam que viajar para o leste turco era muito perigoso, que eu não deveria ir pra lá...muito menos sozinha!
Os guias do tipo Lonely Planet avisam a mesma coisa: desaconselhável para viajantes sozinhas.
Mas eu tava decidida.
Alguma coisa me dizia que eu iria encontrar alguma coisa por lá!

Encontrei, pra começar, um lugar onde eu era uma das únicas mulheres que não vestia lenço na cabeça e  roupa cobrindo o corpo todo.
Todo o turco que eu achava que falava se mostrou quase inútil naquela região (fronteira com a Síria) em que o sotaque não me ajudava em nada e ser simpática podia ser perigoso!
Encarei um táxi até um hostel que tinha encontrado na internet. Se eu penso nisso agora, fico tentando lembrar onde morava em mim a coragem que eu tive naquele tempo...sério! Porque eu não tinha reserva no hostel...eu vi em um site que ele existia, devo ter visto algumas informações em inglês e me joguei!
Só achei perigoso na hora em que o motorista do táxi fez cara de "nem ideia de onde fica esse lugar".
Anyway...cheguei lá! Na sorte...porque o taxista me largou numa rua, deu milhares de explicações em turco das quais eu não entendi nenhumazinha e foi embora! Ainda bem que uma das explicações foi com as mãos, aí eu sabia pelo menos que tinha que virar à esquerda!!!

O táxi!


Bom...a cara de susto do cara da recepção quando me viu chegar foi demais! 
E isso que eu tinha me ligado de não sair de Bodrum com um modelito muito do tipo "verão" apesar do calor de uns 50º que devia estar fazendo naqueles dias...
O cara achou graça de me ouvir falando turco ao menos, eu fui a diversão dos dias dele enquanto estava lá!!
Fiquei no quarto mais barato, pra variar (eu disse que já tava bem turca;) e o mais quente,calorento e abafado também, provavelmente...O chão era TODO coberto por tapetes e carpetes e os colchões ficavam no chão...uma espécie de aquecimento extra, se é que me entendem!
Eu tava sozinha naquele quarto enooorme e dava pra deixar as janelas abertas, mas já a porta....achei melhor passar a chave!!
O banheiro era no primeiro andar e meu quarto no segundo. Tomar banho era um evento!
Apesar desses detalhes, a vista era de cinema: no jardim interno do hostel tinha um poço pequeno com uma fonte de água, uns vasos de flores e um espaço com sofás um monte de guias de viagem, revistas, mapas... Sensacional!







O quarto calorento

Só pra situar...Şanliurfa é conhecida como a cidade onde nasceu o profeta Abraão. É possível visitar uma caverna que dizem ser o local exato do nascimento dele.
Dizem que ali também ele foi julgado e, no momento em que seria jogado em uma fogueira, Deus teria transformado o fogo em água e as labaredas em peixes.
Esse lugar, onde foi feita a fogueira, é o chamado Balıklıgöl - lago dos peixes.

Mochila nas costas, mapa em uma mão e dicionário na outra...lá fui eu!
Eu lembro exatamente de todo o trajeto que eu fiz. Lembro que parei em uma loja pra perguntar onde pegava o ônibus para o lago e de entender um senhor me explicando que poderia ir a pé, que o lago ficava logo ali.
Lembro que as ruas de Urfa têm cheiro de pimenta e de que a área perto do lago parece um grande bazar a céu aberto, cheio de lojas muito mais fascinantes que as do Grand Bazzar em Istanbul.
Lembro de caminhar e rir sozinha, simplesmente encantada com aquilo tudo...
Lembro de passar por uns canteiros com umas roseiras altas e de esquecer que fazia tanto calor...
E aí, lembro que eu cheguei no lago e quase chorei...
Não foi ali que eu descobri as melhores palavras pra descrever o lugar que eu encontrei, mas foi ali que eu encontrei o que eu tinha ido buscar...










A fantasia que eu tinha antes de ir pra Turquia se traduz em Şanliurfa. Simples assim...
Ali, parece que encontrei pela primeira vez uma mulher de burca, parece que reparei pela primeira vez na maneira como algumas delas amarram o lenço na cabeça e em volta do pescoço. Parecia que ouvia aquela língua tão complicada pela primeira vez e que o chamado para a oração tocava bem mais alto.
O movimento de toda a cidade em direção à mesquita, os tapetes sendo estendidos no meio da rua pra poder rezar ali mesmo e todo o ritual durante a prática de oração me deixaram encantada como se fosse a primeira vez que via aquilo tudo.




E talvez fosse mesmo a primeira vez.
Talvez eu tivesse me dando conta de que o tempo todo eu morava ali, naquele país de lenços na cabeça e braços cobertos. E isso tudo só me faz pensar que a coragem que eu achei que tivesse encontrado no meio do caminho, na verdade já estava aqui bem perto quando eu decidi largar tudo e apostar que era possível e que valia a pena começar uma vida nova bem longe de casa...Chegar naquele lago fez tudo valer a pena!



A comida em Urfa merece um capítulo à parte.
Comi o lahmacun com a maior quantidade de pimenta que já tinha experimentado junta e um patlican kebabi (kebab de berinjela) de comer rezando!!
O café da manhã do hostel, foi pra vingar a torrada de Bodrum em alto estilo ;) Ovos feitos na hora, pão quente, çay fresquinho...huuum, dá pra sentir o cheirinho ainda! E tudo isso sentada ao ar livre ao lado da fonte e das flores do jardim...

Lahmacun

Kebab de berinjela 
Café da manhã e çay fresquinho
Mais pimenta!!
Ismael, um menino bem novinho que trabalhava no hostel, foi meu guia por umas horas! Andou comigo por umas mesquitas, me levou pra conhecer o salão do amigo dele que é barbeiro (e me fez sentar na cadeira e passar uma colônia muito fedorenta no rosto todo, nos braços, penteou meus cabelos e ainda tirou foto comigo hahahahahahah!). O Ismael quase não falava inglês e eu achava que falava muito turco...imagina o quanto eu entendi do tour que a gente fez ;))))

Ismael, meu guia
O barbeiro faceiro

 

Visitei ainda o Castelo de Urfa,que fica no alto de uma montanha (parece que Abraão seria jogado lá de cima para o lago) e de onde se tem uma vista linda,linda,linda,linda...








Fiz compras...muitas compras!! A cidade não é muito turística, então os preços das coisas que são vendidas como ouro em Istanbul, ali custavam preço de banana! Claaaaaaaro que cada compra levava muito tempo, incluía entrar na loja e tomar çay e até experimentar um narguilé com sabor morango... mas e quem tava com pressa mesmo??







 Pratiquei horas e horas de people watching...  A diversidade das roupas, dos jeitos, dos olhares de estranhamento pra mim, de uns caras estranhos me seguindo na rua era fantástica.







 


Passei calor, muito calor! Mas um calor inexplicável, de andar no máximo uma hora e precisar sentar na sombra e tomar água. Nunca passei tanto calor na minha vida...ainda mais porque nem regata eu podia usar. Se de bermuda até o joelho e camiseta eu já era perseguida, se tivesse de regata acho que nunca teria saído de lá hahahahahahaha!



Mas infelizmente, chegou a hora de ir embora. Empacotei tudo e pedi pro moço da recepção chamar um taxi. Aí, me disse ele que os táxis só fazem o caminho da rodoviária até a cidade, e não o contrário!!!
E ônibus? Não tem nenhum que chega lá! oooooh céus...vou morar em Urfa pra sempre?? Não, sempre há uma solução à la turca! E quando eu vi, já estava na garupa da motinho do moço da recepção, de capacete e tudo, com minha mochila nas costas, sacolas de compras nas mãos e minha mala entre as pernas dele. Como eu não fotografei aquele momento eu não sei, e não me perdoo até hoje...só sei que fui rindo sozinha o caminho todo até a rodoviária e garanti que não poderia ter escolhido lugar melhor pra minha última viagem naquele país que deixou de ser fantasia, mas vai ser pra sempre um sonho meu.





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